Se Se Morre de Amor - Gonçalves Dias. (Pt. II)

Compreender o infinito, a imensidade 
E a natureza e Deus; gostar dos campos, 
D’aves, flores,murmúrios solitários; 
Buscar tristeza, a soledade, o ermo, 
E ter o coração em riso e festa; 
E à branda festa, ao riso da nossa alma 
fontes de pranto intercalar sem custo; 
Conhecer o prazer e a desventura 
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto 
O ditoso, o misérrimo dos entes; 
Isso é amor, e desse amor se morre!
Amar, é não saber, não ter coragem 
Pra dizer que o amor que em nós sentimos; 
Temer qu’olhos profanos nos devassem 
O templo onde a melhor porção da vida 
Se concentra; onde avaros recatamos 
Essa fonte de amor, esses tesouros 
Inesgotáveis d’lusões floridas; 
Sentir, sem que se veja, a quem se adora, 
Compreender, sem lhe ouvir, seus pensamentos, 
Segui-la, sem poder fitar seus olhos, 
Amá-la, sem ousar dizer que amamos, 
E, temendo roçar os seus vestidos, 
Arder por afogá-la em mil abraços: 
Isso é amor, e desse amor se morre!

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